quinta-feira, 23 de maio de 2013

Resumo do livro "Introdução ao Pensamento Epistemológico" - Hilton Japiassu


O autor, acertamente, define os rumos da reflexão ao “situar os problemas tais como eles se colocam ou se omitem”. Assim, temos a distinção inicial do Saber em Geral em dois campos: a) Os Saberes Especulativos (Filosofia – Racional e Teologia – Religioso) e b) As Ciências (Matemáticas e Empíricas). Nesse contexto, o autor conceitua a epistemologia como o “estudo metódico e reflexivo do saber, de sua organização, de sua formação, de seu funcionamento e de seus produtos intelectuais”.
Daí temos três tipos de Epistemologia: a) Epistemologia Global (ambos os saberes, tomados em geral), b) Epistemologia Particular (também ambos os saberes, tomados em particular) e, c) Epistemologia Específica (quando se estuda de modo mais próximo uma disciplina bem definida do saber).
Parte daí a subdivisão que o autor atribui às epistemologias contemporâneas, em função de terem elas seu primado no estudo do Sujeito, do Objeto ou na Interação entre ambos. Mais uma vez, o autor chama a atenção que o foco recai mais fortemente na Interação e passa ao estudo mais pormenorizado de alguns dos seus pensadores mais significativos, a começar por J. Piaget, e a epistemologia genética.  Ela pode ser definida como sendo “o estudo da constituição dos conhecimentos válidos”. Constituição, aqui, engloba “as condições de acesso” e as “condições propriamente constitutivas”, que dizem respeito à validade dos conhecimentos. Com isso, Piaget quer demonstrar que só há ciência se tivermos os seguintes elementos: a) elaboração de fatos, b) formalização lógico-matemática e, c) controle experimental. Evidentemente, Piaget se afasta da especulação mais filosófica em detrimento de uma epistemologia científica, em prol, segundo ele, de se evitar a “contaminação ideológica”.
Temos, a seguir, a Epistemologia Histórica de Bachelard, para quem a ciência “não é representação, mas ato”, o que o leva a afirmar que “não é contemplando, mas construindo, criando…que o espírito chega à verdade”. Isso afasta, como bem lembra Japiassu, a noção de espetáculo. Nesse concepção, a epsitemologia é tida como ciência “do estudo sistemático do modo como os conceitos de ‘verdade’ e de ‘realidade’ deveriam receber um sentido novo”. Revolucionariamente, portanto, Bachelard defende que a “ciência não é o pleonasmo da experiência”, mas sim que ela se faz contra a ciência, mostrando que é sob um fundo de erros que existe algo verdadeiro.
Na sequência, temos a Epistemologia “Racionalista-Científica” de Popper. Surgem duas indagações: a) como é possível a elaboração de uma teoria científica a partir de observações em número sempre finito? e, b) como é possível o estabelecimento da “verdade” de uma teoria apoiando-se apenas em bases observacionais?. Neste segundo problema é que vamos encontrar o que se convencionou chamar de “valor” das teorias científicas e, por por ter abordagem mais epistemológica e também oposta ao empirismo lógico é que o autor concentra aqui sua análise. Para tanto, é levantado o princípio do “verificabilidade”, que afirma que os princípios científicos devem ser demonstráveis e ao qual se antagoniza Popper com sua ideia de refutabilidade, ou seja, com o princípio de que um enunciado empírico só pode ser falsificado de modo conclusivo.
Logo após, o autor traz a Epistemologia Arqueológica, de Foucault. A principal busca desta epistemologia, em especial da obra Les mots et les choses, consiste em compreender a relação das ciências humanas com o “conjunto subjacente de conhecimentos e de cultura que poderá ser denominado saber pré-científico, opinião ou episteme”. A missão de Foucault passa a ser “apresentar o agenciamento global das ciências humanas” diante daquilo que ele denominou de “triedo do saber”, que vem a ser um espaço epistemológico em três dimensões: a) O eixo das Matemáticas, b) O eixo das Ciências da Vida (Biologia, Economia e Ciências da Linguagem) e, c) O eixo da reflexão filosófica. A partir dele, passa-se a uma digressão histórica que vai da Antiguidade à Renascença, chegando ao Positivismo Clássico.
Dentre as críticas à epistemologia arqueológica, a principal delas está na total exclusão que, segundo o autor, Foucault faz do homem real, para considerá-lo como conceito apenas. A essa crítica o autor contrapõe Sartre, para quem “O essencial não é o que se fez do homem, mas o que ele fez daquilo que fizeram dele.” E o que ele, o homem, faz é a própria história.
A seguir vem a abordagem da Epistemologia Crítica, fruto da reflexão histórica dos próprios cientistas sobre o seu métier. Seu objetivo social reside na responsabilidade social dos cientistas, resgatando a questão sobre a virtude da ciência. Aproximados cada vez mais dos círculos de poder, os cientistas se veem diante de dilemas complexos, que desnudam sua dependência e questionam a “imaculada concepção da ciência”, nas palavras de Nietzsche.
Por fim, a título de conclusão, o autor explana acerca dos rumos da filosofia, ressaltando o papel fundamental que deve ter a reflexão ante tudo o que foi colocado anteriormente. Sintomaticamente, o autor afirma que a filosofia “não pode refletir sobre ideias, mas sobre realidades”, o que a faz órfã de objeto de estudo tão somente para refletir sobre “os objetos das outras disciplinas”. “É por isso”, prossegue o autor, “que ela é sempre uma reflexão com as ciências, e não sobre ou para elas”. Eis que, finalmente, o autor afirma o papel da epistemologia, qual seja, o de “desmascarar a ilusão dos que pretendem conferir à ciência uma importância global que suprime a filosofia”, uma vez que a filosofia deve “criar uma horizonte comum que se recuse a todo confinamento”, sem jamais esquecer da obediência ao humano.

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