quarta-feira, 29 de maio de 2013

Resumo do Livro "Discursos geopolíticos da mídia: jornalismo e imaginário internacional" - Margarethe Born Steinberger

Escrito por Margarethe Born Steinberger, professora de Comunicação e Linguística da PUC-SP e editado pela Cortez o livro “Discursos geopolíticos da mídia” foi elaborado buscando entender a imprensa que temos, a partir do nosso lugar no mundo e, fundamentalmente, aquilo que jaz subjacente à cobertura da grande mídia.Steinberger é mestre em Letras pela PUC-RJ, e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. 
A autora se vale de sua ampla experiência em vários veículos de comunicação, entre eles a Folha da Tarde e a Folha de São Paulo, sendo que por esta última ela cobriu os importantes desdobramentos da reunificação alemã após a queda do Muro de Berlim. A obra encontra-se estruturada em oito capítulos que partem de uma perspectiva teórica da história cultural e da análise do discurso, adentram os cenários geopolíticos estruturados pela/para mídia, em particular sua articulação com o imaginário social, até desaguar no imaginário jornalístico propriamente dito, circunscrevendo a análise à América Latina.
A questão subjacente ao trabalho encontra-se na determinação existente ou criada na legitimação dos discursos geopolíticos da mídia na AL, face ao excessivo poder concentrador dos meios de comunicação de massa na região e sua capacidade de, se não forjar políticas, ao menos ratificá-las ou contestá-las com boa dose de impacto. Assim, no primeiro e segundo capítulos a autora traz a questão histórica que permeia as apresentações geopolíticas, caracterizando-as como “historicizável” conforme a época, aos aspectos científico-tecnológicos ou a atividade social de que se trate. Trata-se, sobretudo, de entender o discurso geopolítico como uma dimensão daquilo que é controlável pelos detentores do poder.Mais uma vez, a autora busca salientar o uso epistemológico dos temas em questão, ressaltando suas concepções variadas e notando que nem sempre essa complexidade é levada em consideração na montagem do discurso. O terceiro capítulo sobrepõe a geopolítica à cultura pós-moderna, cuja síntese vem na emergência de uma geopolítica da cultura. Tal concepção se pauta pela crítica, calcada em aspectos humanos e interessada na constituição de uma geopolítica da mídia que, se ainda ensaia seus primeiros passos, não deve ficar alheia ao seu contexto social.Vem à tona a ideia de insulamento das elites, que se fazem representar ou que propriamente são os donos da mídia, na eleição das pautas jornalísticas, citando, por exemplo, o trabalho de José Arbex Jr, “Showrnalismo”, que mostra a inversão do discurso, ou da lide no jargão do jornalismo.
O quarto capítulo é dedicado à análise do imaginário social como ferramenta para se compreender a geopolítica da mídia. Surge, apropriadamente, o conceito de práxis antagonizando o imaginário/simbólico e o fazer humano histórico, cujo pano de fundo se encontra na consolidação das instituições que vêm formar a opinião pública internacional.A América Latina passa atualmente por longo período democrático, mas apesar de viver um período de relativa paz institucional, avessa às ditaduras de segurança nacional ou similares que assolaram a vida social e política no século passado, a autora nota que este espaço deve ser conquistado diuturnamente, haja vista os acontecimentos recentes na Venezuela e na Colômbia. O quinto capítulo discorre sobre a mídia no espaço público internacional, analisando o funcionamento dos seus discursos e a oposição de parte dos excluídos desse espaço, que se dá também pela limitada regulação que se verifica no acesso a esses espaços. É o próprio conceito de soft power, que ordena agendas de limitada relevância e impacto, apesar de terem surgido para a cena, inclusive na mídia.Em que pese o ganho de importância que os temas geopolíticos agrupados no amplo espectro do soft power tiveram nos anos recentes, percebe-se, ainda, uma forte carga ideológica a pautar o discurso, como no caso citado da atuação estadunidense nas tratativas para a consolidação de um regime de desenvolvimento que envolva uma matriz energética menos dependente do carvão e do petróleo. Já o sexto capítulo adentra o imaginário jornalístico propriamente dito, mostrando a geopolítica como um mapeamento discursivo largamente encenado, onde o que passa a pesar é o valor da informação, convertida de valor de uso para valor de troca pela mediação imersa no capitalismo informacional.Essa transição entre valor de uso e valor de troca ganha contornos dramáticos com a revolução das comunicações, uma vez que, atualmente, o acesso à informação instantânea que vivenciamos ainda costuma se dar de forma direcionada, com alguns grandes grupos controlando quase todos os formadores de opinião, fazendo com que se pense na Era da Desinformação.No sétimo capítulo a autora circunscreve a análise da mídia na América Latina, tornando o texto mais fluido e menos teórico pela inserção de experiências que contrapõem uma negociação, barganha mesmo, da(s) autonomia(s) regional(is) no espaço midiatizado internacional. Fica a impressão de homogeneidade lógica nos discursos identitários, diante de um princípio de participação da sociedade civil no processo.No oitavo e último capítulo a autora fecha sua análise tratando do impacto da nova ordem geopolítica sobre a América Latina, enxergando uma cisão entre os discursos antigos, não renovados, e as práticas atuais, em particular no ressurgimento de discursos de (re)significação dos espaços a partir de uma lógica neocolonialista.

O livro tem muito mérito em tratar com profundidade teórica e prática tema tão espinhoso, seja pelos interesses que envolve, seja pela dificuldade de se defender posição antagônica ao discurso hegemônico em voga. Apesar de seu caráter denso, fruto que é de um rigoroso trabalho acadêmico, o livro consegue emergir à tona com um discurso bem concatenado, bem à maneira mostrada, e criticada quando ausente, durante tantos outros discursos apresentados.


Nenhum comentário:

Postar um comentário